Opinião

Renegociação de dívidas rurais: governo cria dificuldade para vender facilidade no RS

Por Roberto Silva

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Renegociação de dívidas rurais: governo cria dificuldade para vender facilidade no RS
O anúncio feito pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT) de que mais 56 municípios gaúchos poderão renegociar suas dívidas rurais soou, à primeira vista, como um alívio para o campo — mas, nos bastidores, a medida foi recebida com desconfiança por produtores e lideranças do agronegócio.

A mudança nos critérios do Ministério da Agricultura reduz de três para dois decretos de emergência a exigência para que um município entre no programa. O gesto, embora vendido como avanço, escancara a lógica já conhecida em Brasília: criar dificuldade para vender facilidade.

Durante meses, entidades rurais pressionaram por um ajuste simples e previsível nas regras. No entanto, o governo federal esperou a proximidade de novas agendas políticas para transformar o ato burocrático em vitrine de gestão. A divulgação de Pimenta ocorre em meio à tentativa do PT de reaproximar-se do setor produtivo, que se distanciou desde 2022 diante da forte adesão do campo à direita.

A renegociação, estimada em R$ 12 bilhões em dívidas, é vital para centenas de produtores afetados por enchentes e estiagens sucessivas. Mas, para muitos, o socorro chega tarde: créditos travados, juros acumulados e falta de previsibilidade tornaram a vida no campo ainda mais incerta.

O que poderia ser uma política técnica virou ato político com cronograma eleitoral, com Pimenta assumindo protagonismo para tentar reforçar sua imagem no Estado — justamente num momento em que o PT gaúcho ainda não resolveu sua crise interna entre Edegar Pretto, Paulo Pimenta e Paulo Paim.

Enquanto o governo federal celebra o “alívio”, prefeitos e produtores seguem enfrentando a burocracia que Brasília insiste em apresentar como conquista.

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